sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Genealogia effiana

Silas Borges Monteiro 
Professor Associado da UFMT
Coordenador do EFF e do Núcleo UFMT do
Projeto Escrileituras: um modo de "ler-escrever" em meio a vida

Não saberia dizer o que é preciso ser feito para que um grupo de pesquisa ganhe corpo. Tenho a tendência de achar que seus elementos constituintes criam força pelo acaso. Algo, certamente, é fundamental: as pessoas que dele participam. E, talvez aí, resida o grande elemento casual: como trazer para ele as pessoas que, como o coordenador, desejem que um grupo de pesquisa ganhe a feição adequada de um grupo de pesquisa. Diferente de uma empresa, um grupo, embora haja seleção das pessoas que dele participam, não contrata seus membros. Seus participantes movimentam-se em direção a ele pelas razões mais diversas.

Não sei como se faz um grupo de pesquisa. Imaginava que resultava de um movimento de pessoas, quase espontâneo, em torno de um tema. Mas não me parece assim. Se não consigo dizer como se faz um grupo, posso, ao menos, contar como se fez o que eu lidero.

Do ponto de vista formal, um grupo de pesquisa no Brasil ganha alcance e legitimidade quando registrado no Diretório de Grupos do CNPq. Não sei hoje, mas em 2004, bastava, com seus dados pessoais, criar o registro, como se faz com uma página nas redes sociais, com a diferença que, depois de criada, deveríamos avisar a Pró-reitoria de Pesquisa da Universidade e aguardar que ela autenticasse o registro. Simples assim.

Entendi que começariam a fazer parte dele estudantes de graduação e pós-graduação que estivessem sob minha orientação. Assim tem sido, mais ou menos. Vez por outra, pessoas se aproximam das atividades do grupo. Geralmente, do mesmo modo que vêm, vão.

O primeiro nome do Grupo foi GEDFFE: Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática, Filosofia e Formação de Educadores. Didática e Formação de Educadores nasciam de meu doutorado; Filosofia de minha formação inicial. Desde 2012 é EFF: Estudos de Filosofia e Formação. Acho que tem mais a feição atual.

O primeiro projeto de relevância do Grupo foi financiado pelo FNDE intitulado Acompanhamento e avaliação do processo de implantação do Plano de Desenvolvimento da Educação no Estado de Mato Grosso, de 2007 a 2011. O segundo, aprovado no ano seguinte e concluído em 2010 foi Quando profissionais tornam-se professores, financiado pelo CNPq. O terceiro projeto foi o PROCAD (financiado pela CAPES), em duas versões, desenvolvido de 2009 a 2013, contando com a parceria da USP sob a coordenação da professora Selma Garrido Pimenta, minha orientadora de doutorado. Atualmente está em desenvolvimento, iniciado em 2011 com conclusão prevista para 2014, Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida, financiado pela CAPES no edital Observatório da Educação CAPES/INEP. Outros projetos foram feitos ao longo deste tempo, mas com feições mais pontuais, de um ano, deixando poucas marcas no grupo. Houve um momento importante no GEDFFE: a organização do Seminário Educação do Instituto de Educação da UFMT, no ano de 2007. Deu fôlego e motivação ao Grupo. Nosso pequeno grupo, com muita ajuda, claro, organizou o evento, trazendo de volta os Anais impressos do Seminário, algo descontinuado nos anos anteriores. Foi bonito, elegante, chamou muito atenção. O sucesso do evento deveu-se muito ao trabalho da Cláudia Moreira e Renata Cabrera. Esse movimento trouxe muita gente ao redor do grupo. Mas, como vieram, foram. Embora tenha sido grande o vigor do momento, esgotou-se em 2010. Era preciso morrer o GEDFFE para nascer o EFF, movido pelo Observatório da Educação com o projeto Escrileituras, em parceria com UFRGS, UFPel e UNIOESTE, sob a coordenação da professora Sandra Mara Corazza.

O EFF tem, basicamente, três interesses: a educação, a filosofia e a saúde. Vejo nexos profundos entre estes interesses. Eles criam um ambiente produtivo mobilizado por uma das principais indagações que movem as pesquisas que eu oriento: como tornar-se o que se é. Essa questão nascida do título de um dos últimos livros escrito por Friedrich Nietzsche indaga pelo estilo em que as pessoas se constituem e se tornam no que são. Mas Nietzsche não é único. Frequentemente seus leitores mais interessantes aparecem: Heidegger, Deleuze, Derrida, Rorty, cada qual com uma aproximação peculiar, criando um caleidoscópio conceitual e criativo, ao menos aos meus olhos. Embora saiba que Caetano Veloso tenha feito uma linha da música Sampa exatamente para mim. As figuras mais presentes são Nietzsche e seu conceito de vivências ao lado de Jacques Derrida com seu conceito de otobiografia, reinventado pelas nossas pesquisas.

Como disse, não sei como se faz um grupo de pesquisa. Nem exatamente como ele acaba. Talvez haja mais a ser dito enquanto dura...